Uma mensagem dizendo que Anthony Fauci afirmou que os testes PCR não podem detectar infecção está circulando pelos grupos de aplicativos. Fauci é o principal conselheiro sobre pandemia do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. A publicação que verificamos tinha quase 5.000 visualizações em apenas um grupo do Telegram, com mais de 25 mil membros.
Há um atalho na mensagem para texto de um site britânico, que já foi alvo de checagens de outras agências e se declara "censurado" na internet. O texto mistura as declarações de Anthony Fauci com a teoria de Lee Merritt, uma médica especializada em cirurgia da coluna, que nos Estados Unidos é conhecida militante contra as vacinas.
Lee Merritt afirma que o coronavírus é uma arma biológica desenvolvida em laboratório, que a vacinação aumenta o risco de morte por Covid-19 (apesar de os dados em todo o mundo, depois da vacinação, demonstrarem o contrário) e que a própria pandemia é uma grande conspiração global para aumentar o controle social.
Essa última crença da médica é que está por trás da teoria citada no texto em relação aos testes RT-PCR. Segundo o texto, para ela, "um teste de PCR não pode confirmar que o Sars-CoV-2 é o agente causador dos sintomas clínicos, pois o teste não pode descartar doenças causadas por outras bactérias ou patógenos". Por isso, para ela, a mídia e as autoridades oficiais de saúde teriam "propositadamente confundido 'casos' ou testes positivos com a doença real, para criar a aparência de uma pandemia".
O que Anthony Fauci disse num programa ao vivo numa TV dos Estados Unidos não tem nenhuma relação com isso. O consultor do governo americano estava tratando da mudança no prazo de isolamento de pessoas que contraíram o vírus mas estão assintomáticas. O governo dos EUA decidiu reduzir para cinco dias o período em que essas pessoas devem ficar isoladas, porque acredita que depois desse prazo elas já não podem mais transmitir a doença.
Fauci foi perguntado então por que os especialistas acreditam que a pessoa já não transmite mais a doença, apesar de os exames ainda apontarem que ela tem o vírus no organismo. Ele disse que, “por um lado, o PCR é bom para dizer se você está infectado… mas não é um bom indicador para dizer se você ainda é transmissível”.
O PCR detecta a presença do vírus, mesmo que existam apenas partículas virais no organismo. Portanto, ele é um bom indicador de que a pessoa contraiu o vírus. No entanto, se a pessoa já não tem mais o vírus ativo e sim apenas partículas virais, estas podem não ter mais capacidade de se reproduzirem. Isso significa que elas não podem mais provocar a doença naquela pessoa e não são mais transmissíveis.
Sobre testes, diante do crescimento do número de casos provocados pela variante Ômicron, Anthony Fauci também disse que “nem todos os testes diagnósticos disponíveis são capazes de detectar a doença quando o paciente está infectado pela nova cepa”. Mas ele estava se referindo aos testes de antígeno. Segundo ele, o RT-PCR continua sendo o "padrão-ouro" para identificar a presença do vírus, inclusive da variante Ômicron.
Por isso, a mudança no protocolo dos Estados Unidos foi adotada apenas para casos de pessoas que contraíram o vírus mas estão assintomáticas. E, mesmo nesses casos, o isolamento pode ser suspenso, a pessoa pode retornar ao trabalho, mas o uso de máscara é obrigatório por pelo menos mais cinco dias.
Portanto, Anthony Fauci não disse que os testes PCR são ineficazes. Ele considera esse tipo de teste o melhor para identificar a presença do vírus, mesmo para a variante Ômicron. Mas Faucy realmente declarou que, no caso de pessoas assintomáticas, apenas detectar a presença do vírus, como faz o RT-PCR, é insuficiente para mantê-las em isolamento, por limitações dessa tecnologia.
A mensagem viralizada e o texto que a originou trazem informações falsas, ao misturar declarações reais de Anthony Fauci com teorias da conspiração e afirmações sem comprovação científica de uma médica que atua contra as vacinas.
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