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Dado confuso: Governo de SP admite que percentual de 100% de vacinados pode estar inflado

São Paulo não registra o número de pessoas de outros estados que se imunizaram em seus postos de saúde, e também não sabe quantos paulistas não tomaram ao menos uma dose

MonitoR7|Gabriel Herbelha, do R7

Infectologista diz que percentual significa pouco
Infectologista diz que percentual significa pouco Infectologista diz que percentual significa pouco

Há mais de um mês, em 19 de abril, o estado de São Paulo atingiu o importante percentual de 100% da população elegível (acima de 5 anos) vacinada com ao menos uma dose contra a Covid-19.

Nesta quinta-feira (2), o estado chegou a 100,47% da população vacinada, segundo o vacinômetro do governo do estado. Mas, afinal, o que seria esse excedente de 0,47%?

De acordo com a estimativa populacional do IBGE 2020, São Paulo tinha dois anos atrás uma população total estimada em 46.289.933 pessoas. Excluindo-se a faixa etária de 0 a 4 anos, que não pode ser vacinada contra a Covid, o número mágico para atingir toda a população vacinada seria de 43.350.972.

Até esta quinta, 43.453.712 pessoas foram vacinadas. Ou seja, mais de 100 mil pessoas além da população total do estado foram imunizadas. 

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Algo que pode ter colaborado para esse excedente é o fato de que, por cerca de quatro meses desde que se iniciou a vacinação no estado, em janeiro do ano passado, não foi exigido comprovante de residência para a aplicação nos municípios paulistas.

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Ou seja, um carioca, por exemplo, que quisesse se vacinar e cumprisse os outros requisitos poderia se imunizar em São Paulo.

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Na capital paulista, a exigência da comprovação durou até o fim de novembro de 2021. A partir dali, qualquer pessoa poderia receber a injeção, independentemente de onde residia.

Segundo a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, cabe a cada município determinar ou não a exigência do comprovante de endereço.

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Além disso, há aqueles que optaram por não se vacinar contra a doença, por questões ideológicas ou médicas.

À reportagem, a secretaria admitiu que o percentual de 100% de paulistas pode estar inflado.

Outro fato que contribui para a defasagem dos dados é que o governo paulista considera a vacina da Janssen, o único imunizante de dose única disponibilizado no país, contabilizado nos números da primeira dose e também nos índices de esquema vacinal completo.

Questionado pela reportagem se a Saúde tinha o número de pessoas não residentes do estado que se vacinaram em São Paulo, o órgão disse não ter esse controle, já que atualiza o vacinômetro através dos dados recolhidos nos municípios.

Na opinião de Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), o discurso do governo desestimula a imunização de todos os adultos. Segundo ele, a contagem oficial de 100% de vacinados “pouco ajuda na prática, pois não incentiva a busca por faltantes”, aqueles que ainda não receberam as doses.

“Comemorar 100% de pessoas com uma dose em tempos de Ômicron é comemorar sobre um dado vazio”, alerta o médico. 

No estado de São Paulo, cerca de 10 milhões de pessoas ainda não receberam o reforço vacinal. Para Barbosa, faltam campanhas governamentais, busca ativa e cruzamento de dados nos locais de aplicação para que as pessoas sejam encontradas e possam voltar a se vacinar.

Defasagem dos dados do IBGE

O último censo do IBGE foi realizado em 2010. A defasagem dos dados demográficos também contribui para essas dúvidas em relação à porcentagem de vacinados.

O município de Florínea (SP) chega a 163,5% de vacinados com ao menos uma dose. Segundo o censo do IBGE de 2010, a cidade tem 2.653 moradores, mas 4.337 já iniciaram a imunização.

Oitenta e dois dos 645 municípios paulistas têm mais de 100% da população vacinada, segundo o vacinômetro estadual.

O IBGE esclarece em nota que as estimativas populacionais não são feitas nas cidades, apenas nos estados e no país.

Anticorpos

Um estudo divulgado pelo SoroEpi MSP, que monitora a Covid-19 na capital paulista, o maior município do estado homônimo, mostra que 98,9% da população adulta possui algum tipo de anticorpo contra o Sars-CoV-2 no organismo.

Vale ressaltar que os anticorpos podem ser adquiridos através da vacinação ou pela infecção natural.

Portanto, embora seja fato consensual que a maioria absoluta da população paulista tenha se vacinado contra a Covid-19, o governo estadual não possui mecanismos para provar que todos os residentes do estado foram imunizados.

Ficou em dúvida sobre uma informação, mensagem de aplicativo ou postagem em rede social? Encaminhe a questão para o MonitoR7, que nós a checamos para você: (11) 9 9240 7777 ou monitor@recordtv.com.br.

* Estagiário do R7, com edição de texto de Marcos Rogério Lopes

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