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Dióxido de cloro previne e cura a Covid-19?

Mensagens viralizadas defendem o uso da substância para o tratamento desta e de muitas outras doenças 

MonitoR7|Do R7

Mensagens virais em grupos do Telegram afirmam que um novo estudo teria provado que o dióxido de cloro (ClO₂) "bloqueia as proteínas de pico de Sars-CoV-2 da ligação com humanos". Uma dessas mensagens alcançou mais de 10 mil visualizações até o momento desta checagem.

A mesma mensagem ainda traz as legendas "O Dióxido de Cloro (MMS) é o antídoto universal..." e "Cura todas as Doenças da Letra A até a Z". Ou seja, além de defenderem a utilização do produto no tratamento de Covid-19, as mensagens viralizadas aconselham seu uso por pacientes de várias outras doenças.

A sigla MMS, usada na legenda, é para o termo em inglês Miracle Mineral Supplement, que, em tradução livre, significa suplemento mineral milagroso. Esse termo passou a ser usado para designar uma mistura com dióxido de cloro proposta por Jim Humble, ex-membro da cientologia e fundador da igreja Genesis, nos Estados Unidos.

Humble é um ex-garimpeiro, que no final da década de 1990 alegou ter usado a mistura para curar vários colegas de profissão que tiveram malária. Depois, teria passado a usar a solução para tratar diferentes tipos de câncer, Aids, hepatite, trombose, autismo e, recentemente, Covid-19.

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Humble alega ter deixado a igreja que criou, mas continua defendendo o tratamento. Outro fundador da igreja, Mark Grenon, de 62 anos, foi preso recentemente, na Colômbia, junto com o filho dele, a pedido da Justiça dos Estados Unidos. Eles são acusados de fabricar, promover e vender um remédio fraudulento contra a Covid-19 e outras doenças.

Sim, o dióxido de cloro não é usado oficialmente como remédio. O produto é tóxico e consumi-lo é tão perigoso quanto beber produtos empregados para limpeza. O alerta sobre esses riscos já foi feito pela Food and Drug Administration (FDA), agência de saúde dos EUA, e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

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Segundo alerta da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), que representa a OMS no continente americano, "não há evidências de sua eficácia, e a ingestão ou a inalação de tais produtos pode causar graves efeitos adversos". Essa advertência foi divulgada pela entidade em agosto de 2020, depois que a defesa do uso de dióxido de cloro para o tratamento de Covid-19 se tornou comum nas redes sociais.

As autoridades sanitárias do Brasil também têm a mesma posição das entidades internacionais da área. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe, desde julho de 2018, a fabricação e a comercialização do produto e também lançou um alerta sobre os riscos imediatos e de longo prazo para os pacientes. De acordo com a agência, o uso como medicamento não é autorizado em nenhum país.

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O próprio Ministério da Saúde já tinha se manifestado contra o uso da substância no tratamento da Covid em abril de 2020, por meio de nota técnica, que foi atualizada em julho do mesmo ano. Depois de ter recebido um pedido de retificação desse posicionamento, feito por defensores do uso do dióxido de cloro, o MS analisou os argumentos e, em março de 2021, divulgou outra nota técnica, com a conclusão sobre o tema.

A nota com o posicionamento atual do Ministério da Saúde afirma: "Mantêm-se as conclusões apresentadas na primeira atualização dessa nota técnica, reiterando-se que até o presente momento não há evidências científicas que suportem o uso de dióxido de cloro por via oral ou tópica para prevenção ou tratamento de indivíduos com Covid-19".

Sobre os riscos que o consumo do dióxido de cloro como medicação pode causar, nós ouvimos especialistas. Segundo o médico Gustavo Corrêa, preceptor da Divisão de Pneumologia do InCor do Hospital das Clínicas, ao inalar a substância, podem ocorrer "insuficiência hepática aguda, arritmias cardíacas, insuficiência renal e anemia hemolítica".

As complicações do seu uso crônico estão associadas principalmente ao contato por via inalatória, "podendo levar a doenças pulmonares como asma e bronquiolites", completou Gustavo.

Segundo o médico Alexandre de Sousa Carlos, do Departamento de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, quando ingerido, o dióxido de cloro pode provocar vômitos, diarreia, desidratação, baixa pressão arterial, anemia e casos graves de arritmia e insuficiência respiratória.

Em caso de ingestão, o ideal é "não provocar vômitos e imediatamente procurar serviço médico ou centro de intoxicações, informando os componentes que estão no rótulo do produto", aconselha o gastroenterologista.

Quando administrado por via retal, uma opção também citada pelos defensores da terapia nas postagens e comentários, o composto pode causar descamação da mucosa do intestino. Nos grupos de mensagens, adeptos do produto costumam mostrar fotos de fragmentos do órgão expelidos, o que, para eles, é sinal de limpeza do organismo e prova da eficácia da substância.

Mesmo com todos esses alertas de especialistas e agências de saúde, o produto tem ainda muitos apoiadores. O Projeto de Lei 192/21, de autoria do deputado federal Giovani Cherini (PL-RS), obriga os serviços públicos e privados de saúde a fornecer a substância dióxido de cloro a pacientes diagnosticados com Covid-19 que queiram fazer seu uso contra a doença. O PL está pronto para entrar na pauta de votações na Comissão de Seguridade Social e Família.

A pandemia de Covid-19 não é a primeira ocasião em que o dióxido de cloro vem sendo defendido como medicação. Muitas famílias que têm pessoas com autismo já foram assediadas por defensores dessa substância, também alardeada como cura para o transtorno. 

Todos os especialistas e instituições consultados são unânimes em dizer que não há nenhuma evidência científica que demonstre benefício do uso do dióxido de cloro, por qualquer via, na prevenção ou no tratamento de indivíduos com Covid-19 ou outras doenças.

Ficou em dúvida sobre uma mensagem de aplicativo ou postagem em rede social? Encaminhe-a para o MonitoR7, que nós checamos para você (11) 99240-7777.

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