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Impreciso: faltam provas para confirmar onda de denúncias de 'golpe do gás' em corridas por app

Vítimas, na maioria mulheres, afirmam que, após sentir um cheiro forte no carro, sentem náuseas, dores de cabeças e ficam tontas

MonitoR7|Isabelle Amaral*, do R7

Especialistas recomendam que a passageira deixe sempre o vidro do carro aberto
Especialistas recomendam que a passageira deixe sempre o vidro do carro aberto Especialistas recomendam que a passageira deixe sempre o vidro do carro aberto

A fisioterapeuta Yasmin Nicodemos relatou no Twitter o desespero de ter vivido o 'golpe do gás' durante um trajeto realizado por uma empresa de aplicativo. "Estou tremendo até agora. Quase estourei o carro do cara e fui atropelada na avenida", relata ela, que diz ter pulado do veículo em movimento no momento em que o homem não quis abrir as janelas. O caso ocorreu, segundo o relato, na madrugada do dia 16 de junho.

Assim como Yasmin, cada vez mais usuários têm usado as mídias sociais para denunciar esse novo possível golpe. A maioria dos relatos é de mulheres que afirmam sentir um cheiro forte, seguido por um mal-estar. Nesse momento, com medo, elas acabam reagindo de forma arriscada, como a fisioterapeuta, que decidiu pular do carro.

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Em outros casos relatados, as vítimas afirmam que o veículo estava sem a manivela e o botão que abre os vidros estaria quebrado. Além disso, algumas relatam que o motorista não é a mesma pessoa da foto apresentada no aplicativo e geralmente estão extramente cobertos, com blusas de frio, touca e máscara, mesmo no calor.

A visibilidade e a quantidade de denúncias desse tipo nas redes sociais expõem um problema social recorrente: a mulher como um alvo preferencial da violência. De acordo com uma pesquisa da Agência Patrícia Galvão e Locomotiva, 97% das mulheres dizem ter sido vítima de assédio no transporte público e privado no Brasil. Dessas, pelo menos 9% foram em carros de motoristas de aplicativo ou táxis.

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Os sintomas relatados por pessoas que dizem ter passado pelo golpe do gás durante as corridas são náuseas, dor de cabeça e tontura. Esses relatos, compartilhados nas redes sociais, tem chamado a atenção para algumas questões: "como a passageira poderia ser afetada pela substância e o motorista não?"

O diretor da Sociedade Brasileira de Toxicologia e toxicologista do Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Unicamp, Rafael Lanaro, explica que o motorista pode ser menos afetado, caso ele esteja protegido com uma máscara como a N95, entretanto, "não diminui a exposição em 100%", relata.

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Segundo Lanaro, há, de fato, alguns solventes que podem provocar os sintomas citados, mas seria necessária uma avaliação toxicológica no veículo para identificar a substância e, junto a isso, o trabalho da polícia e das empresas de aplicativo para que o motorista seja devidamente punido, em casos de uso comprovado de produtos tóxicos.

Investigações

Em entrevista ao Monitor R7, a delegada da DDM (Delegacia de Defesa da Mulher), Jaqueline Valadares, confirma as ocorrências, mas diz que, "até agora, nada foi concretizado efetivamente, apesar da possibilidade de ocorrer ou já ter ocorrido esse golpe".

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Ela afirma que participou da investigação de dois casos de 'golpe do gás' e que, na perícia, nada tóxico foi constatado. "O cheiro forte que talvez elas tenham sentido deve ter sido álcool em gel ou aquele aroma artificial que alguns motoristas colocam no carro", disse Valadares, que é também presidente do Sindpesp (Sindicato dos Delegados do Estado de São Paulo).

Contudo, toxicologista informou à reportagem que essas substâncias podem ser facilmente dissolvidas no ar. Então, seria necessária uma perícia de imediato no veículo.

O motorista de aplicativo e representante de motoristas na cidade de São Paulo Johnny Vilar diz que ouviu falar dos casos nas redes sociais, mas que não soube de nenhum que efetivamente tenha ocorrido. "Geralmente, quando a empresa sabe da denúncia, ela bloqueia o acesso da pessoa para receber novas corridas, até que o caso seja investigado", explicou em relação a possíveis irregularidades cometidas pelos condutores.

Ele diz, ainda, que casos assim "destroem a imagem do motorista de aplicativo", que precisa dessa renda extra, "Se houver mesmo, a polícia tem que investigar, trabalhar em cima disso e, apesar de eu entender o medo, não dá para generalizar, tem muito trabalhador honesto nas ruas, nós também estamos vulneráveis a qualquer tipo de passageiro", pontuou.

Precauções

Como o toxicologista Rafael Lanaro explicou, a substância se dissolve facilmente no ar, então é "extremamente importante que, a todo momento, o passageiro deixe as janelas abertas".

A delegada Jaqueline Valadares afirma que, caso o motorista não permita isso, é necessário que a passageira notifique a ação no aplicativo, peça para descer do veículo, vá até a delegacia mais próxima imediatamente para que um exame toxicológico seja feito e o motorista investigado.

A Uber e a 99, empresas do mercado de viagens por aplicativo, dizem reforçar a importância de se comparar a foto do cadastro com o motorista, além de informar o ocorrido imediatamente pelo celular para que uma providência seja tomada.

Apesar da relevância das denúncias, quem não consegue provar o ato pode ter consequências. Duas mulheres chegaram a ser condenadas a pagar indenização para motoristas de aplicativo sob falsa acusação em Santos, no litoral de São Paulo. A informação foi confirmada pela Uber.

As mulheres teriam feito publicações nas redes sociais acusando o motorista do 'golpe do gás' devido ao cheiro forte, mas o laudo do IC (Instituto de Criminalística) provou que, na verdade, o produto era álcool etílico.

*Estagiária sob supervisão de Fabíola Perez e Márcio Pinho

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