Recentemente, o MonitoR7 fez um artigo checando a informação de a Rainha Elizabeth II estaria tomando Ivermectina para combater a Covid. A conclusão foi de que a informação era falsa. No texto, reforçamos que essa substância não é eficaz contra o novo coronavírus. Um leitor do MonitoR7 nos enviou uma contestação da informação, apontando que havia uma meta-análise, um método estatístico, que dizia o contrário e estava disponível em um site específico.
O site que traz essa meta-análise citada por nosso leitor é o ivmmeta.com. No título, o site promete uma meta-análise em tempo real, com 81 estudos, sobre o uso de ivermectina para o tratamento de Covid-19. Meta-análise é um tipo de estudo científico que avalia as pesquisas disponíveis sobre um determinado tema e busca chegar a uma conclusão a partir dos resultados desses estudos.
De acordo com as informações do site, nesta meta-análise foram considerados 81 estudos foram avaliados 128.840 pacientes. A atualização mais recente, quando verificamos, foi feita no último dia 03. Segundo o resultado, a ivermectina, usada contra o SARS-Cov-2, seria "90% eficaz como profilaxia, 80% eficiente como tratamento precoce e 50% para tratamento tardio".
Nós ouvimos especialistas, para avaliar essa meta-análise apresentada pelo nosso leitor. O professor de Microbiologia da UFMG e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), Flávio Guimarães da Fonseca, disse que o estudo só seleciona artigos que interessam e ignora os outros, que dizem o contrário. "A maior parte dos artigos referenciados nessa meta-análise traz estudos pequenos e que foram publicados em revistas pouco consultadas".
O professor explica que, na esfera científica, há um índice que mede quanto uma revista é consultada, relevante ou confiável, chamado de "fator de impacto" (IF, em inglês). Praticamente todas revistas mencionadas no site, segundo da Fonseca, tem um índice baixo. Por outro lado, há estudos maiores e com alto "IF" que são completamente omitidos, pois dizem o contrário.
"Fazendo uma busca, eu levantei outras meta-análises e uma, do final de 2021, é de um jornal da Sociedade Americana de Doenças Infecciosas, publicado pela Oxford Press, que é extremamente confiável e traz exatamente a análise oposta". Esse estudo, citado pelo professor, foi assunto de artigo no Portal R7: Estudo derruba de vez ivermectina como tratamento de covid.
Sobre a meta-análise apresentada no site ivmmeta.com, o presidente da SBV concluiu: "Na minha concepção, essa foi uma meta-análise pobre, com muito viés e que não leva em consideração os maiores estudos do mundo".
O professor Luiz Carlos Dias, do Instituto de Química da Unicamp, através do canal da universidade no Youtube, também avaliou a meta-análise publicada no site apresentado pelo nosso leitor. Ele disse que o estudo tem "seríssimos problemas metodológicos, que compromete sua credibilidade".
Segundo ele, "a meta-análise é como uma lente de aumento, que analisa diversas publicações usando uma base de dados. Mas se os resultados são mal conduzidos, você amplifica resultados ruins"
A "pseudo meta-análise", segundo termo usado pelo professor Dias, não inclui estudos científicos "padrão ouro": estudos randomizados, duplo-cegos e com grupos placebos. Em vez disso, só há estudos ruins e encontrados em revistas "predatórias", segundo Luiz Carlos Dias. "Esse estudo nem é uma meta-análise, é uma desonestidade mesmo", completa o professor da Unicamp.
Além da avaliação dos especialistas, o posicionamento das principais agências sanitárias de todo o mundo reforça que não foi comprovada cientificamente a eficácia da ivermectina no tratamento da Covid-19.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) é contra o uso dessa substância. A agência dos Estados Unidos, FDA, chegou a publicar um um tuíte em termos fortes, afirmando: "Você não é um cavalo. Você não é uma vaca. Pare com isso", ao tratar do uso de ivermectina contra Covid-19. A Agência Europeia de Medicamentos também já divulgou recomendação contra esse uso do remédio.
Já em 2020, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) criou uma norma que determina que farmácias passem a exigir receita em duas vias para venda do vermífugo ivermectina, com a primeira via sendo retida pelo estabelecimento, como forma de controlar o uso inadequado do remédio.
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