No final do ano passado, Gabriel Boric, 35 anos, foi eleito o presidente mais jovem da história do Chile. Ele disputou o cargo com um candidato de extrema direita, Antonio Kast, numa disputa marcada pela polarização política. O resultado refletiu a divisão do país. Boric foi eleito com 55,9% dos votos, contra 44,1% para seu adversário.
Ainda em meio à apuração, Antonio Kast demonstrou civilidade, ao admitir a derrota, parabenizar Boric e defender que a partir daquele momento ele era o presidente eleito e todos deveriam passar a trabalhar pelo país. Mas a divisão na sociedade permaneceu e tem se apresentado em ataques a Gabriel Boric pela internet.
O mais recente deles está em um vídeo, que também está circulando em redes sociais e grupos de mensagens no Brasil. No vídeo, Boric está em um parque público, despenteado, com as roupas molhadas e sendo hostilizado por um grupo de manifestantes.
Além da gravação, uma mensagem acompanha a publicação. Ambos chegaram ao MonitoR7 por um pedido de checagem feito por um leitor. Em espanhol, a legenda do vídeo diz que Boric está "transformado e drogado" e sendo atacado pelos próprios apoiadores. "Que horror, e essa é a pessoa que vai dirigir o futuro do Chile, NÃO tem direito" completa a mensagem.
No vídeo, é possível ver Boric sentado no parque, com o cabelo e as roupas molhados, enquanto um grupo de pessoas chama seu nome, joga coisas nele e o hostiliza. O vídeo é real, e a pessoa identificada como Gabriel Boric é ele mesmo. Mas o vídeo não é recente, e a situação mostrada é bem diferente da descrição da legenda.
O vídeo é do dia 20 de dezembro de 2019. Gabriel Boric aparece no chão do Parque Florestal, em Santiago, capital chilena. Ele tinha sido atacado por um grupo de jovens enquanto caminhava no parque, segundo o jornal chileno La Tercera. Os jovens jogaram um líquido nele, aparentemente cerveja, e tiraram o boné que Boric usava na ocasião.
Boric era deputado na época, e nenhum dos veículos que noticiaram o fato mencionou uso de drogas ou álcool pelo político. A imprensa ainda definiu o que ocorreu como uma agressão, com Boric como vítima. Os agressores seriam jovens do partido de Gabriel Boric. Eles protestavam contra o fato de o deputado ter assinado um acordo partidário para acabar com os protestos que aconteciam no Chile na época, em troca da garantia de realização de um plebiscito para uma nova Constituinte.
Gabriel Boric assinou o acordo com partidos tradicionais, apesar de seu partido, Convergência Social, ter se manifestado contra o acerto. Por isso, alguns dos manifestantes o chamavam de "traidor" e "vendido". Após o momento mostrado no vídeo, Boric e sua esposa foram retirados do parque pelos manifestantes.
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